AUTOATENDIMENTO

domingo, 25 de abril de 2010

Entrevista com Dimas Sandas

Blog JPT: Fale um pouco da sua infância, origem familiar?

Sou filho de Edna Viana (Dona de casa) e Antonio José (pedreiro) ambos filhos de seringueiros. Meus pais são separados desde minha infância, minha mãe criou seus 10 filhos quase que sozinha, sempre deu um duro danado pra garantir um futuro melhor para todos nós. Fui morar com minha avó paterna aos 7 anos de idade, Dona Ambrozia, como a chamam. Ensinou-me a fazer o bem, a ser uma pessoa sensível e a olhar de forma fraterna para o próximo. Mesmo não sendo uma pessoa com um grau de escolaridade elevado, ela sempre me educou de forma exemplar. Minha infância foi difícil, não muito diferente da de muitos jovens que nascem em uma família sem muitas condições financeiras. Vivi esse período em vários bairros de Rio Branco. No final do ano de 1991, fomos morar em um Ramal chamado Oco do Mundo, antigo seringal onde passei boa parte da minha adolescência. Daquele local guardo muitas lembranças e cultivo boas amizades, ali aprendi a amar a natureza e a compreender o quanto estamos conectados a ela.

Blog JPT: E como foi sua vida na escola?

Sentei pela primeira vez em um banco de escola aos 10 anos de idade, era a escola Ismael Gomes no Bairro Tancredo Neves, depois quando mudamos para a zona rural estudei em uma pequena escola com uma única sala multiseriada chamada Campo verde. Ali estudavam filhos de pequenos produtores rurais, seringueiros, que chegavam a andar até 12 km para terem acesso à escola, todos traziam nas costas os sonhos de seus pais e avós de construir uma vida melhor, sabiam que somente a educação os dariam a possibilidade de terem tal chance.

E como foi a sua vinda para Rio Branco?

Em 1994, tive que tomar essa decisão, foi a primeira grande decisão da minha vida, sai do km 19, ramal Oco do mundo, BR 364, para tentar dar continuidade aos meus estudos na violenta e conturbada cidade de Rio Branco, já que na localidade só havia ensino básico (1º a 4º série), como quase todas as pessoas que migram da zona rural para cidade, fui morar na periferia de Rio Branco, bairro Tancredo Neves, com uma tia que também passava por muitas dificuldades financeiras, entendi então que precisava me virar, a vida na cidade era bem mais difícil do que na zona rural, agora não tinham mais frutas, legumes, peixes de graça como na floresta.

E como você conseguiu trabalho na Cidade?

Em primeiro lugar, eu nunca tive medo de trabalho, tive que me virar como dava, trabalhei como vendedor de refresco, fui vendedor de pães nas madrugadas, rocei quintal, trabalhei de ambulante, ajudante de construção civil, sempre de cabeça erguida e com muita honradez e conciliando isso com a vida escolar.

Como foi a sua inserção no movimento estudantil?

Conclui meu ensino básico na escola Ismael Gomes, onde fiz muitos amigos e também conheci educadores fantásticos, como: Cesar Fidellis, Professora Janaina da CUT, Professora Conceição, e tantas outras e outros. Foi nesse período que comecei a militar no movimento estudantil, organizamos o primeiro grêmio da escola e ali mesmo sem muita noção começamos a fazer política.

Cursei meu ensino médio na antiga ETCA, hoje escola José Rodrigues Leite, continuei participando e militando no movimento estudantil, foram muitos os embates, que o digam a professora Pará e o professor João Lima, esse foi um dos períodos mais difíceis que passei, tive que morar sozinho e literalmente vendia o almoço pra comprar a janta, ia pra escola todo dia de bicicleta e foram muitas as vezes cheguei em casa à meia-noite todo ensopado de chuva. O movimento estudantil, foi, é , e sempre será um celeiro de formação de lideranças, devemos valorizar e estimular a participação da Juventude neste sentido.

E o movimento comunitário, sabemos que você atuou um bom tempo nele como foi essa fase?

Bom! Certo dia jogando uma pelada no campinho próximo a minha casa, houve um conflito entre dois jovens, então ouvi de um a seguinte frase: “Só serei respeitado nesse bairro no dia em que eu matar alguém”, isso ficou na minha cabeça durante um bom tempo, eu me perguntava se essa seria a única forma de ser reconhecido por uma comunidade, minha resposta foi não. A partir daquele dia comecei a buscar formas de fazer com que aquelas pessoas olhassem de forma diferente para a vida. Tentamos realizar atividades que dessem alguma opção aqueles pessoas, criamos grupos de teatro, música, mais não deu muito certo, comecei a buscar pessoas que tivessem interesses semelhantes aos meus, sempre fui daqueles que gostam de unir as pessoas, seja no time de futebol, no grêmio da escola, na associação dos moradores e em todos os outros lugares por onde passei, acredito que só a força da união das pessoas é capaz de transformar, é como diz a frase: “um mais um é sempre mais que dois”.

Como você conheceu o PT?

Através de um amigo chamado Francisco Saraiva, conheci um grupo de teatro chamado “de olho na coisa”. Funcionava no Teatro Barracão criado por José Marques de Souza (O Matias) um dos fundadores do PT no Acre, naquela época ele havia falecido a pouco tempo, eu saia do Bairro Tancredo Neves para a baixada da Sobral todos os dias, era uma pedalada de quase 20 km só para estar perto daquela galera bacana e valia a pena. Comecei a ensinar para a molecada ali das redondezas os poucos acordes que eu sabia no violão, então, um certo dia, fui abordado por um jovem chamado Raimundo França, que convidou-me para participar de um processo seletivo de um projeto social chamado Agente Jovem, a partir desse projeto além das inúmeras capacitações pelas as quais passei, conheci muitas pessoas do movimento social ligadas ao PT, como: Gracileda Cavalcante, Francisco (Chicão), e o próprio Raimundo França, além de ter sido adotado por uma segunda família, a galera do Agente jovem. Este projeto foi uma das primeiras políticas de juventude realizadas pelo petista Jorge Viana em seu primeiro mandato como governador do Acre, e deu certo, deste projeto saíram jornalistas, assistentes sociais, policiais militares e muitos outros profissionais reconhecidos hoje pela sociedade.

Como foi o seu trabalho com jovens em cumprimento de medidas sócio educativas?

Depois de um bom tempo no Agente Jovem, fui chamado pelo mesmo Raimundo França para ser Educador Social na antiga Casa Reviver, que trabalhava com menores em medidas sócio – educativas, foi uma experiência fantástica em minha vida, os jovens que ali estavam haviam cometido todo tipo de atos infracionais, porém aquilo não me assustava, eu os tratava de forma natural, não conseguia vê-los como criminosos, via-os como jovens vítimas de um sistema cruel e excludente, diante de um modelo falido de sócio-recuperação. Fizemos um bom trabalho, conheci muitas histórias contadas por aqueles jovens, algumas alegres, porém a maioria muito tristes. Algum tempo depois comecei a entender que aquela não era minha missão, desacreditei no sistema e entendi que precisava fazer algo para evitar que outros jovens chegassem àquela situação.

Foi neste período que você fundou a ONG Jovem Age?

Sim. A Associação de Jovens Protagonistas Sociais – Jovem Age, surgiu neste contexto, era bem melhor prevenir do que remediar. No começo era apenas eu com uma pasta embaixo do braço e uma grande idéia na cabeça, tentando convencer pessoas que me perguntavam se eu não tinha nada para fazer. Essa história de trabalho voluntário “era uma grande furada”, diziam eles. Mas como sempre fui muito persistente, consegui juntar alguns amigos e em julho de 2004 fundamos a Jovem Age. Paralelo a isso, participei de alguns projetos sociais do Governo do Estado, como o projeto Juventude Nativa e TV Jovem. Em 2005, com as experiências adquiridas fui convidado para compor a equipe da Coordenadoria Municipal de Juventude para chefiar a Divisão de Formação e Participação contribui para a implantação do Programa Pro Jovem e coordenei a execução do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego no Acre - Projeto Juventude Cidadã, dentre outros ações na área de formação sócio-profissional.

Blog da JPT: Como foi a sua filiação ao PT?

Toda essa militância no movimento social elevou a minha consciência política e eu particularmente acredito que a filiação a um partido seja um estado elevado de consciência política. Encontrei, no PT, pessoas que sonham com um o Acre, com um Brasil e com um mundo melhor. Minha filiação oficial aconteceu somente em 2005.

Você é um dos jovens mais orgânicos e ideológicos do PT, como é ser dirigente partidário?

Em 2008, fui eleito Secretário Estadual da Juventude do PT, estamos fazendo um amplo trabalho de organização e formação da Juventude Petista no Estado. Através da JPT tive a oportunidade de participar de muitos debates nacionais sobre políticas públicas de juventude e de muitos outros temas, conheci muito da realidade brasileira e sempre trago boas experiências de outros estados para o Acre. Nosso Estado é uma referencia para a política nacional. Não é à toa que somos conhecidos como república petista. Além disso, a função de secretário me permitiu estar mais próximo de grandes lideranças do PT como o Carioca, Aníbal Diniz, Léo Brito e ser conhecido pelo Jorge Viana, Tião Viana, Angelim e muitos outros.

Blog da JPT: E sobre a sua candidatura a Deputado Estadual?

Essa candidatura surgiu dos anseios do movimento social, daqueles que acreditam que podemos continuar avançando e aprofundando o projeto político do PT e da Frente Popular no Acre, é mais um, dos grandes desafios que enfrentarei na minha vida, teremos que juntar sonhos, idéias e bons projetos para pleitear uma cadeira na assembléia e, acima de tudo, ganhar os corações e as mentes da juventude Acreana para o nosso projeto. Alguns dizem que somos loucos, que jovem não tem competência, que não temos estrutura, que é impossível vencermos uma eleição, porém era impossível também sair da pequena localidade rural e vir morar na cidade de Rio Branco e não virar “marginal”, eu não virei. Também diziam que filho de pobre não poderia concluir uma faculdade e eu estou concluindo. Então confiando na grande corrente humana que gira em torno deste projeto que não é do Dimas, é do PT e da Dona Maria do Tacacá, do seu José da padaria e de todos que acreditam que juntos podemos voar. Para os pessimistas de plantão que dizem não, eu digo sim, é possível e nós podemos!


Trajetória político-profissional


Dimas da Silva Sandas, conhecido como Dimas Sandas, tem 28 anos, é Formando em Comunicação Social/Jornalismo. Militante do PT desde a adolescência e filiado desde 2003, iniciou sua carreira política no movimento estudantil secundarista e movimento comunitário. Dimas também foi sócio-fundador da Ong Associação de Jovens Protagonistas Sociais - Jovem Age, que trabalha a temática juventude e participação social. Em 2003, no segundo mandato do governador Jorge Viana (PT), participou do Programa de Desenvolvimento Social Agente Jovem, atuou como educador social na antiga casa reviver trabalhando com Jovens em medidas sócio educativas, em 2004 foi convidado para compor a equipe da Secretaria Extraordinária de Juventude - Seja, atuou no Projeto TV Jovem, nos Centros de Juventude e na coordenação do projeto Juventude N´ativa estando à frente de ações como a campanha "A gente Também Lê" que arrecadou mais de 10 mil livros para montagem de bibliotecas comunitárias, em 2005 foi convidado para chefiar a Divisão de Formação e Participação da Coordenadoria de Juventude da prefeitura de Rio Branco contribuindo para a implantação do Programa Pro Jovem e coordenando o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego no Acre - Projeto Juventude Cidadã, dentre outros ações na área de formação sócio-profissional. Em 2008, foi eleito secretário estadual da Juventude do PT, cargo que ocupa até 2011. Atualmente é Gerente de Políticas Públicas e Projetos da Coordenadoria Municipal da Juventude, membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente, membro do conselho nacional de secretários estaduais da juventude do PT e integra o Diretório Regional do Partido dos Trabalhadores.

“O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim”.
(Rubem Alves)


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