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sábado, 6 de junho de 2009

AINDA SE PENSA QUE AS COISAS MUDARAM. MUDARAM?

Mário Mendes

Hoje, não usam botas nem chapéus; usam ternos, gravatas ou roupas esportivas de marca. Não viajam de barcos. É certo que de vez em quando ainda montam em cavalos, nos finais de semana, quando vistoriam seus pastos. Mas não são donos apenas de pastos, são donos da verdade, da legalidade, da honestidade, do dinheiro, da fala de todos, da vontade de todos, enfim, são donos daquilo que chamam Estado em todas as concepções.


Falar não é possível se por nós não autorizados. Ninguém terá o direito de pensar, de dialogar, de criticar, de manifestar-se contra. Somente nós podemos e somos capazes de fazer tais coisas, pois até no sol mandamos.


Mas enfim, ser contrário a que? Se tudo já está a contento.


Quando na história deste barracão, seringueiro teve saúde de primeiro mundo, educação pública de qualidade para os filhos, segurança modelo que o faz viver despreocupado com as onças e as cobras e salários maravilhosos em relação a outras aldeias?


Realmente o seringueiro ou o índio que tem algo a reclamar vivendo em uma comunidade destas deve ser banido, pois é um ingrato, um perturbador da ordem pública. Pois para ele até foi feito praças e pontes que ainda que não sejam maravilhosas, seus valores são esplendorosos.


Conheci um seringueiro amigo deles que tinha acesso a casa grande e até mesmo a cozinha, comia de suas iguarias e de vez em quando era levado para passear; mas num passe de mágica enjoaram-no. Ele ficou muito magoado e pensou assim: conheço seus erros, vou revelá-los aos outros seringueiros. Ferrou-se. Sua estrada de seringa foi tomada.


Conheci um de seus guarda-costas, muitas vezes usado para reprimir seringueiros arruaceiros. Aquele se sentiu desprivilegiado e se rebelou dizendo: aqui a coisa é diferente! Eu sou poderoso! Não brinque comigo! Pois sabeis o que sou capaz e meu poder de fogo. Coitado! Descobriu que há poder muito maior que o de fogo. Foi amarrado, amordaçado e humilhado.


E assim continua a saga dos coronéis, seringueiros e índios numa terra, num barracão, numa fazenda, numa aldeia, bem longe, bem longe, onde um dia aparecerá um cineasta e realizará um filme baseado nesta história real que deixara todos que a habitam estarrecidos e indignado. Como uma história já contada e que os seringueiros de hoje pensam ser coisas que já não se repetem.

Mário Mendes – É professor licenciado em Matemática pela Universidade Federal do Acre - UFAC.

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